Repertório

Embora seja interessante o conhecimento dos aspectos miasmáticos, constitucionais e clínicos que possam envolver uma repertorização, ainda assim, a referência mais importante da prescrição homeopática compreende a chamada Síndrome Mínima de Valor Máximo (SMVM) o que isso consiste do menor conjunto de sinais e sintomas modalizados, que distinguem um paciente em suas peculiaridades gerais e patológicas, especialmente de natureza mental, permitindo a individualização do tratamento.

Pode ser dito que miasmas são diáteses, o que quer dizer que sejam predisposições mórbidas da energia vital e de seu tônus, sendo que há três tipos fundamentais dessas diáteses, a saber, o miasma funcional ou disfuncional (de predomínio hipertônico sem lesão estrutural importante), o miasma hipertrófico (em que prepondera o caráter distônico com hiperplasia estrutural) e o miasma lesional (hipotônico e com destruição estrutural).

No presente repertório a organização é feita de modo a apenas classificar, em exemplos emblemáticos, algumas das mais simples indicações medicamentosas, para facilitar a orientação de uma receita emergencial, pois as opções para a prescrição são muito mais abrangentes, devendo ainda ser ressaltado que o aspecto mais importante na escolha de um remédio homeopático é o estado mental, e não orgânico, como parâmetro de tônus da energia vital.

1) Rubrica Miasmática:

Apresentação da linguagem repertorial diatésica…

1.1) Psora: Sulphur e muitos outros medicamentos com radicais sulfúricos ou sulfurados, a exemplo do Natrum sulphuricum, importante em alguns casos de afecções respiratórias de origem imunológica ou alérgica, tais como a asma. Outro exemplo primordial é o Niccolum sulphuricum, que é muito útil em quadros de alergia em geral.

1.2) Sicose: Thuya e demais medicamentos de origem vegetal, sendo merecedores de nota os remédios Ignatia amara e Staphysagria (ambos úteis em alguns quadros depressivos e nervosos, conversivos ou psicossomáticos) ademais de Nux vomica e Lycopodium, estes que são importantes em muitos dos pacientes com afecções digestivas ou viscerais em geral. E uma nota especial ao medicamento Ipeca ou Ipecacuanha, que pode ser considerado o “Phosphorus vegetal” (útil em doenças respiratórias e hematológicas, particularmente as hemorrágicas).

1.3) Luetismo: Mercurius vivus, mas valendo lembrar que o bromo, assim como o mercúrio, também é um elemento químico líquido em condições ambientais, o que sugere o uso dos remédios Bromium e Kali bromatum, dentre outros elaborados a partir desses elementos.

1.4) Miasmas Recombinantes:

a) Artritismo: Calcarea carbonica e vários outros remédios com o elemento químico carbono em sua composição, a exemplo do Natrum carbonicum, ou mesmo o próprio carbono, como no caso do Graphites, este que é muito utilizado em afecções dermatológicas e reforça o componente psórico deste miasma, enquanto que a prescrição de Carbo vegetabilis é mais indicada aos traços sicóticos desta diátese artrítica.

b) Tuberculinismo:

b.1) Quadros respiratórios e hemorrágicos: Phosphorus e muitos outros remédios com radicais fosfóricos ou fosforados, que são úteis nas infecções respiratórias, a exemplo do Ferrum phosphoricum, importante também em alguns pacientes com afecções inflamatórias ou com febre.

b.2) Quadros nervosos: Natrum muriaticum, que também é um remédio muitas das vezes útil no tratamento do herpes labial (sendo que no caso de herpes zoster a indicação de Metallum album é mais bem graduada, em especial, nos pacientes com imunidade deprimida por neoplasias malignas).

b.3) Quadros de astenia ou de esgotamento: Silicea terra, especialmente na falta de calor vital, mas sendo interessante também algum grau repertorial de nota ao elemento químico estanho, quando a astenia se deva às doenças respiratórias, infecciosas ou não, seja tanto o Stannum metallicum quanto o Stannum iodatum.

c) Cancerinismo: Radium bromatum (aqui é interessante notar que o rádio é um metal pesado, tal qual o mercúrio, enquanto que o bromo é um elemento químico líquido em condições ambientais, o que ressalta o caráter luético desta diátese cancerínica, que é sicótico-luética)… Além disso há outras opções, como a Platina e o Metallum album, dentre outros fármacos.

1.5) Diabetismo:

OBSERVAÇÃO: Diabetsimo é um miasma postulado por este autor, na publicação do livro intitulado Dinamização in Vivo, de 2004, editado e publicado pela Editora Letramédica (em Joinville)…

a) Hipertensão arterial sistêmica (HAS) e doenças cardiovasculares: Aurum metallicum.

b) Diabete mélito: Phosphoricum ac.

b.1) Diabete mélito tipo 1: Plumbum metallicum ou Plumbum iodatum.

b.2) Diabete mélito tipo 2: Uranium nitricum ou Uranium metallicum.

c) Diabete mélito e hipertensão: Lachesis muta ou Vanadium.

2) Rubrica Constitucional:

Apresentação da linguagem repertorial biotipológica ou somatotípica…

2.1) Constituição Sulfúrica: Biotipo mediolíneo (de nosódio do Psorinum).

É a sub-rubrica da morfofisiologia nitrogenoide…

a) Em grau primordial se destacam os seguintes remédios: Sulphur, Nitri acidum e Argentum nitricum.

b) Em grau secundário são dignos de nota os fármacos a seguir: Uranium nitricum e Ambra grisea.

c) Quase todos os outros medicamentos que não estejam em algum grau em outras constituições, estarão em grau terciário da constituição sulfúrica.

2.2) Constituição Carbônica: Biotipo brevilíneo (de nosódio do Medorrhinum).

É a sub-rubrica da morfofisiologia hidrogenoide…

a) Em primeiro grau: Calcarea carbonica, Graphites e Capsicum.

b) Em segundo grau: Anacardium orientale e Phytolacca decandra.

c) Em grau terciário: Allium sativum, Manganum aceticum, Cerium oxalicum e Fucus vesiculosus.

2.3) Constituição Fosfórica: Biotipo longilíneo (de nosódio do Tuberculinum).

É a sub-rubrica da morfofisiologia oxigenoide propriamente dita…

a) Grau primordial: Natrum muriaticum, Sepia officinalis e Phosphorus.

b) Grau secundário: Selenium e Stannum metallicum ou Stannum iodatum.

c) Grau terciário: Bromum, Iodum e Plumbum.

2.4) Constituição Fluórica: Biotipo indeterminado (de nosódio do Carcinosinum).

É a sub-rubrica da morfologia oxigenoide de Grauvogl, posteriormente definida como morfologia halogenoide (ou de morfofisiologia metaloide)…

a) Grau principal: Metallum album, Antimonium crudum e Silicea.

b) Grau secundário: Fluoris acidum e Antimonium tartaricum.

c) Grau terciário: Borax e Tellurium.

OBSERVAÇÃO: Embora o mercúrio não seja um metaloide, e sim um metal, o medicamento Mercurius solubilis pode ser incluído em grau especial nesta sub-rubrica.

3) Rubrica Metabólica:

Apresentação da linguagem repertorial endócrina…

OBSERVAÇÃO: Enquanto os biotipos constitucionais mostram uma natureza primariamente anatômica e secundariamente fisiológica, ao contrário disso, os estados tróficos se caracterizam por uma natureza primariamente fisiológica e secundariamente anatômica. De outro modo, ainda, temos os miasmas, que são diáteses mórbidas, quer dizer, os miasmas não são de natureza anatômica e nem fisiológica, mas sim de tendência patológica.

Em outras palavras, por um lado os miasmas são tendências mórbidas, e por outro lado, os biotipos constitucionais e endócrinos são modos reativos primariamente anatômicos ou fisiológicos. Isso significa que os miasmas sejam primariamente patológicos, enquanto que os biotipos sejam primariamente e secundariamente reativos, embora possam terciariamente patológicos.

O fato é que tanto os miasmas quanto os biotipos são individualizantes, porém, menos importantes que a síndrome mínima de valor máximo (SMVM).

Enfim, as constituições são mais estruturais e os estados tróficos ou metabólicos são mais funcionais, ou seja, as constituições são relativamente permanentes e os estados metabólicos são relativamente dinâmicos.

3.1) Estado Hipertrófico: Grupo do ouro…

a) Grau principal: Aurum metallicum, Calcarea carbonica e Graphites.

b) Grau secundário: Antimonium crudum (e Niccolum sulphuricum 4 DH em quadros de alergia, dorsalgia e nervosismo, incluindo gastrite nervosa).

c) Grau terciário: Cerium oxalicum e Baryta carbonica.

3.2) Estado Eutrófico: Grupo da prata…

a) Grau principal: Argentum nitricum, Sulphur e Metallum album.

b) Grau secundário: Tellurium (e Niccolum sulphuricum 4 DH em quadros de alergia, dorsalgia e nervosismo, incluindo gastrite nervosa).

c) Grau terciário: Uranium nitricum.

3.3) Estado Hipotrófico: Grupo do bronze…

a) Grau principal: Silicea terra, Phosphorus e Ambra grisea (além de Selenium ou Sepia officinalis).

b) Grau secundário: Stannum metallicum ou Stannum iodatum (e Nitri acidum 4 DH em quadros dermatológicos).

c) Grau terciário: Zincum metallicum ou Zincum valerianicum e Cuprum metallicum ou Cuprum arsenicosum.

OBSERVAÇÃO: O Zincum é chamado também de Stannum indicum.

3.4) Estado Distrófico: Grupo do ferro…

a) Grau principal: Mercurius solubilis, Ferrum phosphoricum e Hepar sulphur (são os chamados “antibióticos homeopáticos”, ou seja, aqueles remédios que são bem empregados em quadros infecciosos em geral).

b) Grau secundário: Pyrogenium.

c) Grau terciário: Plumbum metallicum ou Plumbum iodatum e Secale cornutum (esporão do centeio pelo fungo Claviceps purpurea).

Dr. Paulo Venturelli